Adeus, 2020

 

E finalmente chegou! Chegou o ultimo dia desse ano de 2020. É um alivio depois de tanta coisa que aconteceu nos últimos 366 dias (esse foi um ano bissexto). É certo que logo no início do ano já sabíamos o que estava acontecendo do outro lado do mundo. Um surto de uma doença misteriosa saiu dos limites da China e aos poucos se espalhava pelo globo. Era questão de tempo até chegar aqui no Brasil. Mas não sabíamos que duraria tanto tempo e de uma forma tão dura.

Mas antes da quarentena chegar a vida tentava continuar de forma normal. Logo nos primeiros dias de 2020, Caxias recebeu uma ótima notícia com o início da revitalização do complexo ferroviário onde está situado o IHGC. Particularmente, estava a todo vapor na conclusão da pesquisa para meu livro ‘Por Ruas e Becos de Caxias’. Entrevistando pessoas nas ruas, registrando imagens dos locais, etc... Fazendo tudo de forma acelerada antes que as pessoas se recolhessem de vez em suas casas e ficando impossível de colher as histórias orais de populares.

E teve carnaval. Sim, aproveitamos os dias de festa enquanto o Brasil não tinha registrado ainda nenhum caso de infecção. E foi logo depois que tudo começou, ou melhor, parou.

Se a humanidade já viveu anos piores do que esse? Certamente que sim. Anos de propagação de doenças, como a Peste Negra, que dizimou grande parte da população europeia no século XIV, ou desastres naturais que destruíram plantações deixando milhares de pessoas sem comida. Indo mais recentemente, no século passado, cito o ano de 1929, onde a queda da bolsa de Nova York levou o mundo a maior crise do capitalismo deixando o mundo em uma grande depressão econômica. Pessoas perderam empregos, casas e famílias. E os anos entre 1939 e 1945, onde o mundo esteve diante da maior guerra já vista na história? Foram anos difíceis para os países envolvidos, mas para nós aqui em Caxias, era uma realidade bem distante naquela década de 1940. As consequências políticas e econômicas sofreríamos em médio prazo sem interferir diretamente na vida social.

Mas porque 2020 é diferente de todos esses anos? Porque é a era da globalização.

Nas últimas décadas tivemos um grande avanço na integração dos países de forma comercial, facilitado principalmente pela informática. O computador, celular e a internet aceleraram de vez o transporte e as comunicações. As fronteiras dos países praticamente deixaram de existir, permitindo a livre circulação de pessoas de diferentes culturas. Podíamos fazer mais tarefas em um curto espaço de tempo. A informação chegava imediatamente, até nos pontos mais remotos da terra. Uma pessoa situada na zona rural de Caxias acompanha um jogo ao vivo que está acontecendo em Dubai naquele momento.

E essa aproximação toda devido a tecnologia também tem seus efeitos negativos. O que é ruim nos países chega igualmente rápido na periferia do planeta terra. Essa mesma zona rural que acessa um APP pelo celular, também vê a rápida comercialização de drogas pesadas em seus arredores.

Então, se algo bastante contagioso surge do outro lado do mundo, a globalização se encarrega de levar a todas as regiões da terra. Se um determinado local se fecha deixando de enviar seus produtos, desencadeia uma série de eventos que prejudicam outros locais que dependem direta e indiretamente daquele. Imagine então países se fechando. Se a gasolina não chega em Caxias, o carro fica parado e então tudo também para, pois não tem transporte para o trabalho e o deslocamento para as compras de casa. A cidade cresceu e com ela a dependência da tecnologia. As consequências do Coronavirus em Caxias são imediatas, diferente da Caxias da década de 1940, quando o mundo estava em guerra.

Esse ano que se encerra agora foi diferente de todos que já vimos. Ele nos afastou de nosso círculo social e familiar. Foi um ano sem encontros, sem abraços, sem beijos. Foi um ano virtual.

É irônico que esse 2020 tenha nos tirado a liberdade social, pois só que a humanidade tem feito nos últimos anos é se prender no mundo virtual. Redes sociais como o Facebook e Instagram, onde as ideias, ações e opiniões são compartilhadas em mundo aberto. O Whatsapp, onde conversamos com conhecidos e desconhecidos sobre diversos assuntos, indo do resultado da partida de futebol as ideias políticas. Até nos encontros com amigos em um bar ficamos grudados no celular registrando o momento e postando as fotos aguardando os comentários de quem não está ali. Estávamos perto das pessoas o tempo todo, mas também distantes. E 2020 nos manteve assim, permanentes nesse mundo virtual, privando do que ignorávamos na época, nossa liberdade.

Encerramos 2020 só pensando em uma coisa: a tal da vacina. Nunca desejei tanto ser picado por uma injeção, e olha que eu tenho pavor até de fazer exame de sangue. Mas não vejo a hora de voltar a sentar em uma mesa com os amigos, sem usar máscara e ficar o tempo todo evitando tocar em pessoas e objetos, passando álcool gel.

A todos que perderam amigos e familiares neste ano, desejo o meu mais profundo pesar. Essa foi a maior perda que a Covid-19 nos trouxe.

Adeus, 2020.

______________________

Publicado: 31/12/2020

Comentários