Coelho Neto em caricaturas

Se Coelho Neto é o caxiense ilustre com mais registros fotográficos, é provavelmente o mais caricaturado, ilustrado e representado em desenhos nas mais diversas publicações de jornais e revistas. Gonçalves Dias, nosso querido poeta foi igualmente representado, mas isso após sua morte.

Coelho Neto é o que podemos considerar hoje uma celebridade em seu tempo, um “influencer” de sua época. Embora a fotografia já fosse usada nas publicações no início do século XX, o desenho representava muito mais do que uma homenagem. Ainda era um meio de passar informações e deboches aos seus leitores das situações da política e na vida social brasileira. Levando-se em conta também o grande número de analfabetos no país naquela época.

Abaixo estão algumas representações do poeta, político e acadêmico Coelho Neto feita pelas publicações no Brasil.


“Ordem do dia: o novo batalhão”. A caricatura acima traz uma série de personalidades da época, como Aluízio Azevedo, Emilio de Meneses, João do Rio e Olavo Bilac (em destaque com a espada), onde formariam um “batalhão poético de regeneração nacional” em defesa de novas ideias brasileiras, entre elas a mudança econômica agrícola para a industrial. Coelho Neto está no centro marcado com o X. Fonte: Revista O Malho, 1915.


A caricatura acima mostra um tranquilo Coelho Neto dando baforadas em um cigarro enquanto alguém sai às pressas correndo. Trata-se de uma anedota denominada “o morcego do poeta”, ficção (ou não) que conta um pretendente a poeta que entrega uma de suas poesias para ser avaliada pelo imortal. Fonte: Revista O Malho, 1917.


No ano de 1918, Coelho Neto não teve seu nome incluído na chapa situacionista para concorrer às eleições para Deputado Federal pelo Maranhão, controlada pelo chefe político Urbanos Santos. Assim, a charge denominada “No Maranhão: o fora indecoroso” retratava o ocorrido mostrando uma senhora representando a velha política oligárquica maranhense expulsando de sua casa um nobre Coelho Neto.

A senhora exclama:

- Vá embora, “seu” Coelho Neto. Os seus livros e os seus louros não me cheiram! O que me serve é isso: são esses bonecos sem valor! Só assim eu fico valorizada! Só assim me igualo a mediocridade comum! Só assim me torno querida! Vá embora...

Fonte: Revista O Malho, 1918.


Algumas edições posteriores a da imagem acima, mostrava um glorioso Coelho Neto sendo entregue com carinho por uma mão maranhense a Câmara Federal, e um pé do Estado do Rio chutando um burro na porta do Senado (provavelmente algum político fluminense). Barrado na chapa situacionista liderada pelo oligarca Urbano Santos, o poeta acabou concorrendo a sua reeleição pela chapa oposicionista. Dessa forma a revista O Malho mostrava um retorno triunfante do maranhense a Câmara.

Mas como as eleições no tempo da República Velha (1889-1930) era controlada pelos grupos oligarcas, Coelho Neto acabou perdendo as eleições em uma apuração duvidosa e questionada pelo menos.

Fonte: Revista O Malho, 1918.

Coelho Neto sob o Pão de Açúcar, com uma cinta da Liga da Defesa Nacional e segurando o Credo, recebe um estrangeiro desembarcando no Brasil, onde na mala pode-se ler ‘Bolchevismo’. A Liga da Defesa Nacional foi um grupo fundado em 1916, por Olavo Bilac, Pedro Lessa e Miguel Calmon, que tinha como seu Presidente Rui Barbosa, favorável aos Aliados (Império Britânico, Rússia, França e Itália) durante a 1º Guerra Mundial. Como no fim da guerra acontecera a Revolução Russa (1917), instalando o regime comunista dos bolcheviques, o país afastou-se dos Aliados e da própria guerra. Assim, a imagem mostra que um estrangeiro pode chegar ao Brasil com suas ideias diversas, desde que esteja de acordo com os diversos “credos” nacionais.

Fonte: Revista O Malho, 1920.


Quando a revista O Malho fez o concurso para eleger o Príncipe dos Prosadores Brasileiros, fez diversas caricaturas de seus diversos candidatos. Essa foi a de Coelho Neto. Fonte: Revista O Malho, 1927.

Mais uma caricatura de Coelho Neto na época do concurso da revista. Fonte: Revista O Malho, 1928.


Quando Coelho Neto venceu o concurso do Príncipe dos Prosadores Brasileiros, a revista selecionou os melhores cartunistas para ilustrar o vencedor. Entre eles estão: Fritz (1895/1969), o argentino Andrés Guevara (1904/1963) e Alvarez. Fonte: Revista O Malho, 1928.


Mais uma caricatura para o especial do Príncipe dos Prosadores. Fonte: Revista O Malho, 1928.


Quando Tobias Warchavski e Guilherme Moussatché, dois jovens cartunistas de futuro visitaram a redação da revista O Malho, deixaram registrado para publicação quatro caricaturas de personalidades da época: Roosevelt (Presidente dos EUA), Mussolini e Balbo (dois líderes fascistas italianos) e Coelho Neto, feito por Tobias.

Tobias Warchavski (1917/1934) nasceu no RJ, formado na Escola de Belas Artes. Militante do PCB (Partido Comunista Brasileiro), foi assassinado após um julgamento do tribunal do Partido.

Fonte: Revista O Malho, 1933.

Caricatura feita durante a polêmica sobre o apoio da Academia Brasileira de Letras a um argentino durante o concurso do Nobel de Literatura em 1932. Desenho já postado aqui no blog no artigo sobre Coelho Neto na disputa pelo premio Nobel. Imagem: Diário de Notícias (RJ), Ed. 700 de 22 de maio de 1932.

Um sóbrio e experiente Coelho Neto. Fonte: Revista da Semana, 1933 / O Malho, 1943).


Texto e pesquisa: Eziquio Barros Neto



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