Início da rua Antônio Joaquim: fechada em benefício do banco.
Quem trafegou nos últimos dias pela Praça Gonçalves Dias em direção as ruas Aarão Reis e Alderico Silva (antiga 1º de agosto), importantes vias para a distribuição do trânsito na maior parte da área central da cidade, se deparou com uma grande tenda armada no início da Rua Antônio Joaquim, o que causou o fechamento deste logradouro. Atravessar por ali, só a pé ou na bicicleta.
O fechamento de uma via pública não é errado, pelo contrário, o uso de um logradouro para atividades diversas, a sua ocupação pelas pessoas é uma retomada à convivência e sociabilidade na cidade, incentivando a integração dessas pessoas com o espaço urbano. É dar mais vitalidade as ruas, que estão cada vez mais tomadas por carros e motos, e excluindo as pessoas de sua circulação.
Mas esse não é o caso aqui da Rua Antônio Joaquim. O fechamento desta rua aconteceu para a instalação de uma tenda coberta que tem um único objetivo: servir de base de apoio a clientes da agencia do Banco do Bradesco. Clientes esses que são em sua maioria aposentados e idosos oriundos da zona rural que chegam cedo na cidade e vão direto para a porta da agencia formar uma fila para o atendimento. Essa fila toma toda a calçada e parte do quarteirão, inclusive também parte da praça Gonçalves Dias, onde as pessoas vão buscar refúgio nas sombras das arvores e descansar nos bancos. Essa aglomeração se dá do lado de fora do banco por que essa é a única agenda do Bradesco em Caxias, e sua pequena sede não suporta seu grande número de clientes.
E essa tenda no meio da rua tem nome: privatização do espaço público.
O termo ‘privatização do espaço público’ é bastante usando em situações em que um bem público (praça, rua, parque, área verde) é transferida para o setor privado, criando uma área particular e disponível para quem puder pagar. Nisso, cria-se uma zona segregada e excludente, violando nossos direitos constitucionais, o oposto do que deveria ser uma área pública para o uso comum de todos.
Convivemos diariamente com exemplos de privatização do espaço público pela cidade, onde existem algumas modalidades de ocupação. O mais perceptível e comum são áreas ocupadas para o comercio informal, popularmente conhecidos como “camelôs”. Mas essas ocupações irregulares não se dão apenas por pessoas de baixa renda. Muitos comércios, lanchonetes, bares e empresas também ocupam indevidamente esse espaço, seja com seus produtos espalhados pelas vias ou quando ‘toma’ parte de sua calçada para construção de rampas e outros obstáculos, como os totens comerciais.
O caso da tenda na Rua Antônio Joaquim, ou melhor, a “tenda do Bradesco” é diferente. Não é uma mera ocupação por acaso e improvisada por necessidades como quem precisa trabalhar pelo seu sustento. É uma ocupação de um bem público para se tornar exclusivo aos privilégios de uma classe dominante, que são os banqueiros. É uma ocupação de interesse privado acima do interesse coletivo, excluindo grande parte dos caxienses.
O Bradesco está no seleto grupo dos bancos privados que mais lucraram em 2020, em plena pandemia onde muitos comércios quebraram, resultado do péssimo resultado da economia brasileira no ano da COVID-19. O Bradesco teve um lucro de 16,5 bilhões de reais. Só atrás do Banco Itaú, que lucro 18,5 bilhões. Enquanto em Caxias, sua única agência bancária com mais de trinta anos de atividade, não tem condições de ampliar as dependências para os clientes. E acredito eu, que uma nova agencia para agilizar o atendimento não esteja nos planos do banco.
Incapaz de dar atendimento adequado a todos os seus clientes e para tentar “ordenar” os que não conseguem entrar na agencia, optou-se então por fechar a rua e instalar a tenda, com cadeiras e o sombreamento. O caxiense, então, assume o ônus que deveria ser do Bradesco.
O impacto principal é o trânsito de veículos pela rua que estão impedidos de trafegar por ela e precisa dar voltas por ruas adjacentes menores, complicando ainda mais o trânsito pelas ruas do centro histórico.
Mas essa tenda nos diz mais do que isso. É o uso continuo e indevido do espaço público, a diminuição do direito do cidadão a sua cidade, a impossibilidade de ir e vir, a falta de políticas públicas urbanas voltadas as pessoas.
Não é mais possível que empresas privadas ignorem as legislações em benefício do lucro, invadindo nossas ruas e calçadas, nos excluindo e ignorando a função social da propriedade urbana. Os clientes do banco não merecem ser tratados de qualquer forma, jogados no meio da rua jogando o problema para o Poder Público e nós, os cidadãos caxienses.
Nós não devemos pagar mais essa conta!
Rua Antônio Joaquim, com vista para a Praça Gonçalves Dias. Rua fechada para o cidadão.
Comentários
Postar um comentário